Falamos, no nosso último artigo, sobre a história do cravo, com a promessa de trazer também informações sobre a tradição da decoração deste instrumento:
A partir do século XVI, os cravos viram instrumentos de prestígio, muito caros, com uma decoração sumptuosa. Alguns construtores, especialmente os venezianos e os milaneses distinguem-se particularmente pela sumptuosa decoração dos seus instrumentos, como, por exemplo, um instrumento de Annibale dei Rossi, exposto no Victoria and Albert Museum, em Londres, que é decorado com incrustações de marfim e centenas de pedras preciosas.
Por outro lado, a decoração característica da escola flamenga é representada por arabescos e motivos de golfinhos em papel impresso.
Já no século XVII os instrumentos passam a não ser mais reservados exclusivamente para os monarcas e a alta aristocracia, enquanto a decoração se torna um pouco mais simples, exceto por casos especiais.

Michele Todini (1625 – 1681), por exemplo, foi o autor do cravo mais extraordinariamente decorado que chegou até nós, exibido no Metropolitan Museum de Nova York: inteiramente dourado, a faixa curva é decorada com um baixo-relevo representando uma cena da mitologia grega, em vez dos cavaletes, encontramos um incrível grupo escultórico que parece emergir do oceano: três tritões carregam o instrumento, encorajados por duas náiades e seguidos por golfinhos, a base, pintada de verde para representar o mar, repousa sobre as pernas do leão, duas esculturas separadas representam, ainda, o Ciclope Polifemo e a ninfa Galatéia.
A arte do cravo atingiu seu apogeu no século XVIII: o conceito e a construção alcançaram uma incomparável complexidade técnica e perfeição, sob o impulso de construtores extraordinários da França, Alemanha, Flandres e Inglaterra.

O cravo de A Trupe Barroca inaugurado em ocasião do Concerto de abertura da Temporada 2018, no 18 de maio, é um instrumento construído por Abel Vargas, em 2016, inspirado num cravo alemão de Christian Zell, de 1737.
A grande novidade é que o instrumento foi totalmente decorado, como era comum naquela época, e a inspiração foram as belezas do Estado do Espírito Santo. A tampa, por exemplo, traz uma pintura da baía de Vitória com o Convento da Penha e sobre o tampo harmônico, abaixo da gaiola das cordas, foram pintados vários pássaros e flores do Espírito Santo, como colibris e orquídeas. O trabalho belíssimo foi feito pelo talentoso artista Leonardo Cerante.
