Antonio Vivaldi – a vida do compositor e violinista do estilo barroco tardio na República de Veneza

Antonio Vivaldi, gravura de François Morellon de la Cave; 1725
Antonio Vivaldi, gravura de F.M. De La Cave, 1725

De família de origem genovesa, Antonio Lucio Vivaldi nasceu em Veneza em 4 de março de 1678 (data de sua ata de batismo, encontrada apenas em 1963), de Giovanni Battista Vivaldi (1655-1736), que exerceu primeiro como barbeiro e logo como músico, sendo um violinista apreciado na Capela São Marcos, e de Camilla Calicchio (1655-1728), filha de um alfaiate de Brescia.
Teve oito irmãos, dos quais dois falecidos em idade frágil e dois de caráter violento, que acabam sendo banidos da cidade e considerados a vergonha da família; passou, então, sua juventude em um ambiente que não era adequado à sua sensibilidade e temperamento, mesmo assim, seus dotes excepcionais conseguiram florescer.

Ele começou a estudar o violino sob a orientação de seu pai, desde muito novo. Parece que aos dez anos ele tinha já as habilidades para substituir Giovan Battista na orquestra de San Marco. Alguns querem justificar a grandeza do compositor veneziano atribuindo-lhe um professor mais ilustre: Giovanni Legrenzi, mestre da Capela de San Marco. Mas é uma suposição não suportada por qualquer fonte.

Em 1703 tornou-se sacerdote católico e ficou conhecido por “il Prete Rosso” – “o Padre Ruivo” devido à cor do seu cabelo, embora escondido debaixo das perucas, tão em voga nesse período. Em 1704, ele é isento de celebrar a missa por suas precárias condições de saúde, devidas a uma forma grave de asma.
Tal dispensa não deixa de levantar rumores: “Uma vez, que Vivaldi estava celebrando a Missa, de repente pensou num tema de fuga. Deixou o altar no qual estava oficiando e correndo até a sacristia escreveu seu tema, então voltou e terminou a Missa”. Esta era uma maneira pitoresca de justificar o abandono da vida sacerdotal. Mas o mesmo Vivaldi, anos depois, dá outra versão dos fatos, em uma carta ao Marquês Bentivoglio datada de 1737: “(…)bem três vezes tive que deixar o altar, sem acabar a missa, por causa do meu mal. É essa a razão pela qual não posso celebrar a missa”, por causa da asma.

Il Pio Ospedale della Pietà na Riva Degli Schiavoni (1686), Veneza, coleção particular
Il Pio Ospedale della Pietà na Riva Degli Schiavoni (1686), Veneza, coleção particular

Vivaldi trabalhou no Pio Ospedale della Pietà quase toda a sua vida, ocupando vários cargos (maestro di cappella, maestro di coro, maestro di concerti), embora reduzindo este seu trabalho, por vários períodos, para dedicar-se à ópera, o que lhe garantia sucesso e dinheiro.
O Pio Ospedale della Pietà, fundado em 1346, entre os 4 hospitais da cidade, era um abrigo para crianças órfãs ou provenientes de famílias muito pobres. Aqui os meninos aprendiam uma profissão e deixam o instituto aos 15 anos; as meninas, por outro lado, recebiam uma educação musical e as mais talentosas se tornavam membros da instituição.
Escondidas do público por grades densas, graças ao trabalho e à presença de Vivaldi, as jovens cantoras e músicas da Pietà ganharam prestígio e fama internacional. Vivaldi compôs para elas a maioria de seus concertos, cantatas e passagens de música sacra.

Em 1713, tornou-se produtor no Teatro S. Angelo em Veneza. A primeira de suas óperas é “Ottone in villa”, representada em Vicenza no mesmo ano. São seguidas outras 45, entre as quais as mais conhecidas são “Il Giustino” (1724), “Farneace” (1726), o “Orlando” (1727), a “Olimpíada” (1734).

Algumas viagens o levam para o exterior, às vezes em companhia da cantora Anna Giraud: em 1737 ele foi a Amsterdã como convidado de honra pelo centenário do teatro local.

Neste último período, suas composições não são mais apreciadas em Veneza: as mudanças rápidas nos gostos musicais e a afirmação da escola napolitana o deixaram fora de moda, e ele, em resposta, decide se mudar para Viena, onde havia estado convidado por Carlos VI e onde esperava talvez ocupar algum cargo oficial na corte. Infelizmente o imperador falece pouco tempos após a chegada de Vivaldi em Viena; a futura imperatriz Maria Teresa da Áustria é forçada a fugir para a Hungria por causa da guerra de sucessão austríaca; os teatros vienenses fecham até o ano seguinte: esses trágicos golpes do destino deixam o compositor sem proteção imperial e sem fontes de renda, e, finalmente, na noite entre 27 e 28 de julho de 1741, Vivaldi morre em Viena.

Presumido retrato de Antonio Vivaldi (anônimo, século XVIII) preservado no Museu Internacional e Biblioteca de Música de Bolonha
Presumido retrato de Antonio Vivaldi (anônimo, século XVIII) preservado no Museu Internacional e Biblioteca de Música de Bolonha

Antonio Lucio Vivaldi foi um dos maiores virtuosos violinistas de seu tempo e um dos maiores compositores da música barroca. Considerado o músico italiano mais importante, influente e original de seu tempo, Vivaldi contribuiu significativamente para o desenvolvimento do concerto, especialmente o do concerto solo, gênero iniciado por Giuseppe Torelli, e da técnica do violino e da orquestração. Também não descuidou da ópera. Seu trabalho de composição é muito extenso e inclui inúmeros concertos, sonatas e peças de música sacra. O dinamarquês Peter Ryom criou o catálogo de referência das composições musicais de Vivaldi, “Ryom-Verzeichnis” (“O Diretório de Ryom”) atribuindo a cada uma a abreviação de RV seguida pelo número de catálogo.

Suas obras influenciaram outros compositores de seu tempo, incluindo Bach, Pisendel, Heinichen, Zelenka, Boismortier, Corrette, De Fesch, Quantz.

Tal como acontece com muitos compositores barrocos, após sua morte, o nome bem como a música caíram no esquecimento. Somente graças à pesquisa de musicólogos do século XX, Vivaldi ressurgiu, tornando-se um dos compositores mais conhecidos e executados.
Suas composições mais famosas são os quatro concertos de violino conhecidos como “As quatro estações”, um famoso exemplo de música programática.

A Trupe Barroca prestigia o sumo compositor com a campanha #MúsicaSolidária, no dia 20 de junho às 19 horas, com os trechos Surgeti e Cum Dederit do Nisi Dominus, RV 608, na interpretação do contratenor Paulo Mestre

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